Ódio Algemado - Recuperado

Ontem, enquanto o meu melodramático ser tropeçava em problemas vulgares de ficção realista da vida, dois advogados argumentavam no tribunal sentimental um problema de afecções repartidas e desejadas por dois adversos inimigos.

De um lado e defendido pelo coração estava o arguido, o Amor.

Do lado oposto e bastante confiante encontrava-se o ódio, queixoso e representado pela mente e pensamentos drogados pela solidão do cliente.

No centro juntava-se o juiz, era um velho sentimento há já muito esquecido pelos mentores, e era conhecido pela rigidez das suas decisões.

Três agrestes batidas ouviram-se o julgamento tinha dado início.

Este tribunal era discrepante de todos os outros, apenas uma argumentação de defesa era o permitido, tanto da parte do arguido com do queixoso.

Dada a escolher a palavra, a mente foi a primeira a manifestar-se, levantou-se e afirmou:

- O Amor, sentimento pelo qual fazemos mais loucura é depravado. Desta vez obrigou a sua amada a aceitá-lo mesmo contra todas as suas vontades. Gritos da mulher ouviam-se e ecoavam por obscuridades sofridas de há muitos anos. O meu cliente passava pelo local do sucedido e interrompeu mais uma tentativa macabra de violação amorosa.

Bem sabemos que o ódio não é bom exemplo para ninguém, mas neste caso ele tem razão e deve ser esquecido de todos os crimes anteriores pela amabilidade prestada neste caso.

Que se faça justiça!

De seguida, a bancada do queixoso teve a palavra para se defender.

- As acusações ao meu cliente são descabidas, inóspitas e desprezáveis. O passado do queixoso é miserável. Culpado diversas vezes de difamação e desrespeito às relações conjugais de apaixonados.

Todos sabem que o Amor é o responsável pela estabilidade dos casais. Raras vezes foi acusado pelo padecimento de relações já destinadas a cessar sob ordem do queixoso.

Mentalidade e estimas estão em colapso no meu cliente. Depois da acusação todos pensam agora que é um depravado louco.

O meu cliente não fez nada do relatado e vai ser ilibado por todos os crimes referidos.

Que se faça justiça!

Um leve silêncio pairou na sala durante segundos. O juiz levanta-se e proferiu:

- As provas incidem sobre o Amor. Nos termos legais tê-lo-ia de condenar e exilar para sempre, mas bem sei que o Amor não é culpado. Hoje antes de entrar nesta sala, uma carta encontrava-se em cima da minha secretária e resumidamente dizia, que o arguido estava a salvar a sua amada de um gang comprado e mandado pelo ódio para incriminá-lo para assim o maquiavélico queixoso pudesse ficar com a dama para fins menos próprios. A carta estava assinada pelo líder do gang.

Por isso condeno o ódio a prisão efectiva de 25 anos. Fim da sentença!

O coração olhou para o seu cliente, mas não o interrompeu, este estava abraçado à sua amada, sob o olhar prisioneiro do condenado que se preparava para ser levado para a prisão.

Love wins any battle

Rui Fernandes