12 horas para a Salvação

Estava a olhar para a Lua deitado na minha fiel companheira de quarto, a cama.
O objecto redondo, cintilante, estava encoberto por sombrias e carrancudas nuvens que persistiam em não ceder a beldade de um astro com milhões de anos à minha vista, quando, de súbito, um pressentimento detonou dentro do meu corpo.
Antes da manifestação no interior do meu físico, a Lua, através do seu brilho intenso afastou as densas nuvens para me comunicar algo que não compreendi. Compreendi sim, o delicado sorriso que esta esboçou, era um sorriso de guia e confiança.
Logo após este sorrir, esta ordenou às estrelas vizinhas, a colocarem em prática um plano que já tinham ensaiado há décadas e que estava na altura de ser desvendado.
Uma linda coreografia, bailou no minuto seguinte, estrelas flamejantes circundavam e agitavam-se por entre rochedos espectadores.

No exacto momento em que senti o tremor sentimental, uma vibração junto a um móvel escutei, era o meu telemóvel, tinha acabado de receber uma mensagem escrita. “ A Lua está em perigo, as estrelas estão em perigo, a Terra está em perigo, tu estás em perigo, ajuda o mundo, salva-nos”. Inicialmente, imaginei que tinha acabado de receber uma daquelas mensagens corrente, mas rapidamente percebi que não era isso. Como entendi isso tão depressa? Fácil, os cães começaram a ladrar, os gatos a miar, os pássaros a chilrear, as nuvens pesadas abriram-se, começando a chover, e a lua? Essa com uma voz choramingada pediu-me ajuda. Levantei-me em sobressalto, pensei que o universo iria acabar, tudo ia deixar de existir. Algo de estranho se passava, às 11 horas, quando na aldeia onde morava não era normal já estarem todos a repousar, eu era o único sobrevivente com olhos ainda não atingidos pelo sono e estava ali, sozinho com a difícil tarefa de salvar o Mundo. A voz esganiçada afirmou ainda, cruelmente: “ Tens até ao amanhecer para salvar o Mundo, serás só tu, a encontrar a saída para este pesadelo, contarás com a ajuda da Natureza, sei que consegues, mas se não conseguires, ficarás sozinho, e com a sensação de incapacidade, esta que levar-te-á ao campo das almas”

Fiquei apavorado, aquelas palavras bateram no fundo da minha mente, como se fosse uma pedra a afundar-se num lago.
Que iria eu fazer? Qual era a solução do problema?
Os Deuses no Olimpo iniciavam uma guerra, trovões começavam a atingir o solo terrestre, o mundo começava a desmoronar-se, era o inicio de um inferno de 12 horas .

O ruído dos relâmpagos faziam ressonância na minha cabeça, era um som ensurdecedor, mas eu era o único a ouvi-los, parecia que aqueles que estavam a dormir tinham entrado num estado de sono profundo .

Não conseguia pensar numa solução, tinha pensamentos a voarem de um lado para o outro numa estrada com dois sentidos, mas nenhum deles era o caminho da resolução da catástrofe.
Liguei o televisor, percorri os canais todos, mas nenhum dava conta da tragédia que poderia estar para acontecer.
De repente, um astro cadente aterrou, suavemente, no meu quintal. Corri para a entrada de minha casa, desci as escadas e desloquei-me ao pátio.
O astro, aparentemente sem vida, despertou, olhou-me e deu-me um bilhetinho, como se fosse um apaixonado a enviar cartas ao seu amor. No final desta acção, a estrelinha voltou a elevar-se e colocou-se no seu lugar, bem juntinho à Lua.
Abri o bilhete, feito de poeira de lua queimada com o calor do astro-rei, e onde estava escrito o seguinte:

“Sou capaz de destruir o mundo,
Só para reconhecerem o meu valor,
Vai acordá-los do sono profundo
E vejam o meu esplendor”

Fiquei, novamente sem saber actuar, aquilo era um enigma, sem dúvida, mas eu não era de todo, bom a decifrar enigmas.
Lembrei-me então da ajuda da Natureza, concedida pela lua. Fui à minha biblioteca pessoal, tentar encontrar um livro que me pudesse ajudar. Peguei num volume velho, coberto de pó e tentei procurar soluções. Passeava a página 24, quando encontrei alguém, que me podia ajudar pela sua sabedoria, o Mocho Real, este que por acaso vivia numa escura e medonha floresta perto de minha casa.

Saí de casa, levei uma mochila com alguns mantimentos e agasalhos, embora não fosse necessário, já que o prazo delineado estava a escassear e não havia tempo para sossegos.
Cheguei à entrada da floresta. O ruído melodioso dos pirilampos cintilantes contrastava com o horrendo som de corvos agitados, que circundavam o céu escuro.
Mal começara a caminhar na floresta, quando um ser pequeno e carinhoso, que não conhecia, se aproximou de mim e proferiu:

“O animal que procuras
No infinito escuro está
Procura-o entre as amarguras
E ele aconselhar-te-á”

De seguida, o animal desapareceu, não pela sua própria pata, mas numa levitação incomum num animal daquele tipo.
Bem, agora eram dois enigmas para decifrar, mas o último quase de certeza que já sabia o que queria dizer.
Corri por um caminho cheio de pedras, onde quase que as ouvia a queixarem-se de ser tão bruto ao passar em cima delas, mas era o mundo que estava em jogo.
Depois de 10 minutos sucessivos a correr, olhei para o céu, uma estrela mesmo por cima de mim brilhava intensamente e emitia um feixe de luz na direcção de uma árvore feia e velha.
Desta vez, caminhei com medo, em direcção à árvore. Espreitei por entre folhas e raminhos arranjados e foi aí, que encontrei o animal que tanto procurava, o Mocho Real.
Este já me esperava com grande ansiedade, mas quando me avistou refugiou-se dentro de uma cavidade na feia árvore.
Chamei, chamei e voltei a chamar pelo triste e solitário, quando de repente, um livrinho voou até mim. Era um volume já com alguma idade e na capa poderia encontrar-se o título, “Um jovem prometido e um grande salvador”.
Questionei-me o porquê daquele livro, mas não tive uma única palavra para resposta por parte do Mocho. Logo após esta minha interrogação, um acontecimento muito estranho se passou.